Minha jornada de pesquisa

  • Depois de receber o Neilma Sydney Literary Travel Fund (Austrália), viajei ao Brasil para pesquisar a escravidão para um manuscrito literário. Foi uma chance de me reconectar com minha terra natal e descobrir histórias profundamente conectadas à história da minha família.

    Me concentrei nos últimos cinquenta anos da escravidão em São Paulo, organizando visitas a coleções raras na Biblioteca Nacional, Museu Nacional e Biblioteca Maria Carolina de Jesus e Museu Afrobrasileiro. Mas também deixei espaço para a descoberta.

    Minha pesquisa me deu três palavras: resistência, serendipidade, dualidade. Eu não as teria encontrado se não tivesse ficado aberta—construindo relacionamentos, ouvindo, permitindo-me sentir o peso do que descobri.

    Essa experiência me ensinou que a pesquisa criativa não te permite ficar distante. Ela pede que você carregue o que encontra e transforme em algo que honre tanto os fatos quanto a experiência humana.

  • A pesquisa é uma conversa entre o que você procura e o que te encontra.

    Trabalho com três tipos de pesquisa, cada um oferecendo diferentes abordagens à narrativa:

    Pesquisa Primária

    Engajamento direto com fontes—entrevistas, visitas de campo, arquivos. É aqui que você encontra a textura da verdade: o peso de uma carta em suas mãos, o cheiro do papel antigo, a maneira como um lugar te faz sentir.

    Pesquisa Secundária

    Construir contexto através de material existente: livros, documentários, artigos acadêmicos. Isso fundamenta sua história em uma compreensão mais ampla e ajuda você a fazer perguntas melhores.

    Pesquisa Experiencial

    Extrair da experiência vivida e da observação. Às vezes, a pesquisa mais poderosa é prestar atenção às suas próprias memórias, às histórias da sua família, ao mundo ao seu redor.

    Exemplos do meu trabalho: Minha conexão com a herança afro-brasileira; observar o Brasil contemporâneo; a ressonância emocional de voltar para casa.

  • O desafio não é reunir pesquisa, mas sim, tecer ela na narrativa sem sobrecarregar a história.

    A pesquisa deve aprofundar sua escrita, não pesar sobre ela. Abaixo está como tento integrar minha pesquisa.

    Através do Personagem

    A pesquisa informa quem são seus personagens. Suas vozes, expertise, visão de mundo e motivações. Um botânico fala diferente de um historiador. Um personagem moldado por dificuldades econômicas faz escolhas diferentes de quem não é.

    Através do Lugar

    Cenários se tornam mais ricos quando fundamentados em pesquisa; não apenas detalhes físicos, mas as camadas culturais, históricas e emocionais que fazem um lugar respirar.

    Através do Tema

    A pesquisa pode reforçar sobre o que sua história realmente trata—as questões e tensões subjacentes que lhe dão ressonância.

  • Pesquisar me ensinou que o processo raramente é obvio. Aqui está o que eu gostaria de ter sabido quando comecei:

    Abrace a Serendipidade

    As melhores descobertas muitas vezes não são o que você estava procurando. Uma conversa casual, um documento inesperado, um museu que voce visitou no acaso….

    Algumas das minhas descobertas mais inspiradoras, vieram de momentos que eu não havia planejado.

    As Coisas Vão Dar Errado

    Visita são cancelados. Arquivos fecham inesperadamente. Entrevistas não acontecem. Tenha planos alternativos.

    Você pode assistir a um documentário em vez disso? Agendar uma videochamada mais tarde? Encontrar outra maneira de obter a informação?

    A flexibilidade importa mais do que o plano perfeito.

    Construa Relacionamentos Genuínos

    Se você está entrevistando pesquisadores, lendo seus trabalho ou buscando informações de comunidades, seja franco e honesto sobre seus motivos para pesquisa. Mantenha a comunicação aberta. Mostre interesse genuíno. Esses relacionamentos podem se tornar fontes contínuas de informacao—e merecem respeito.

    Saiba Quando Parar

    A pesquisa pode se tornar procrastinação. Você alcançará um ponto de saturação onde mais informação não serve à narrativa. Confie no seu instinto. Quando a pesquisa começa a se repetir, ou quando você sente o impulso de escrever, esta na hora de parar de pesquisar e começar a criar.

    Cuide do emocional

    Algumas pesquisas, especialmente sobre trauma, injustiça ou perda, ou outras temas pesados, vão te afetar. Eu chorei em arquivos, e senti o peso da historia, por isso eu parava e ia dar uma volta.

    Direcione essa energia emocional para sua escrita quando ficar demais.

    Se organise para manter a sanidade

    • Rotule suas fotos.

    • Transcreva notas de áudio.

    • Mantenha um caderno à mão para pensamentos que surgem em momentos estranhos.

    • Voce no futuro te agradecerá quando encontrar sem problemas aquele detalhe crucial que registrou seis meses atrás.

    A pesquisa criativa é bagunçada, emocional e profundamente gratificante. Em oficinas passadas eu ajudei ajudo escritores a navegar tanto os desafios práticos quanto a jornada emocional, e adicionar seus achados na narrativa de ficção e poesia.